Os melhores discos de todos os tempos: Exile on Main Street

Fazer listas é algo bem complicado. Quem se propõe a fazer uma vai agradar uns e desagradar outros.

Você pode pensar aí numa porção de listas polêmicas: As melhores bandas de rock, os melhores jogos de videogame, os maiores jogadores da história do futebol, os melhores filmes. Com toda certeza sua lista vai diferir da lista do seu melhor amigo, e mamilos (polêmicas) surgirão. Com listas de “Melhores discos de todos os tempos”, não é diferente.

Quer um exemplo? Veja as três listas a seguir: “Os 500 melhores álbuns da revista Rolling Stone”, os “500 melhores álbuns segundo a revista NME”, e “The Rock and Roll Hall of Fame´s Definitive 200”. Perceba que, apesar de alguns “intrusos”, um bom número de discos é figurinha carimbada em todas as listas. É sobre estes discos que trataremos na nossa nova coluna.

Como se fosse a primeira vez

Será que existe algo que ainda não foi dito sobre Sgt. Peppers ou The Dark Side of the Moon?

Com essa pergunta em mente, a Playstorm decidiu inovar: O stormer que menos tiver tido contato com o álbum, artista ou estilo musical será aquele que vai escrever o artigo. Desta maneira, teremos uma análise “não apaixonada”, com o frescor da “novidade” ainda pulsando nas veias.

E é com esse espírito que começo a minha análise de Exile on Main Street, álbum dos Rolling Stones que aparece no 7º lugar na lista da Rolling Stone, 24º na lista da NME, 3º na lista da Enterteinment Weekly e 6º na lista do Rock and Roll of Fame. Eu (e acho que quase todo mundo) gosto de Rolling Stones, mas não sou um expert da discografia da banda.

Particularmente, vejo os Stones como uma banda de boas músicas, mas nunca tive grande identificação com seus discos. Ao contrário de Beatles ou Pink Floyd, por exemplo, é difícil apontar uma “capa de disco” dos Stones que ficou na história. Então por que cargas d´água, Exile on the Main Street aparece tanto nessas listas de melhores discos de todos os tempos? O jeito foi mergulhar de cabeça no álbum para descobrir. E posso adiantar: foi uma experiência maravilhosa.

O exílio dos Stones

No final dos anos 60, o bicho tava pegando para bandas e artistas britânicos. George Harrison já havia reclamado em Taxman, o Led Zeppelin puxou o carro e os Stones tiveram que fugir da Inglaterra. A política de tributos na terra da rainha era muito agressiva e fez boa parte dos artistas ingleses dos anos 60 e 70 derramarem lágrimas de desespero.

Com os Rolling Stones, foi ainda pior: Imagine que eles delegaram as finanças do grupo ao empresário mais picareta da história do Rock, Allen Klein. O maldito desviou boa parte da grana de Mick e cia. para empresas fantasmas e sonegou o máximo de impostos que conseguiu. Aliás, até os Beatles foram vítimas de Klein: Paul foi o único que enxergou o furo da bala e não assinou com o empresário. Graças à cagada dos outros três Beatles, eles se viram contratualmente obrigados a dividir tudo o que ganhavam com a venda de discos entre si e entre o próprio Klein (até mesmo os rendimentos da carreira solo). Mas deixemos essa história pra lá e voltemos aos Stones.

Os Stones estavam falidos, devendo mais imposto que brasileiro de mala cheia voltando de Miami. O jeito foi sair da Inglaterra e o sul da França foi o local escolhido para o “exílio”.

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Casa do Keith

Quando os Stones se mudaram pra França, algumas das canções do que viria a ser o “Exile” já existiam, em fase embrionária. Eles estavam evitando lançar material até que as pendengas com Klein estivessem resolvidas. No entanto, o “grosso” do que viria a ser o Exile foi gravado no porão da Casa de Keith, na França.

O curioso é que o disco não teve qualquer direção musical. O então baixista, Bill Wyman, por exemplo, mal apareceu nas sessões. Amigos dos Stones, por outro lado, entravam e saiam daquele ambiente e deixavam suas contribuições registradas: Nicky Hopkins, Jim Price, Ian Stewart e até Billy Preston (tecladista dos Beatles em Let it Be). Tudo isso em meio a pausas pra drogas, mulheres e tudo o que você possa imaginar de um rolê dessa natureza.

A receita para uma verdadeira bomba musical estava posta. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Daquele caos emergiu uma música de qualidade, envolvente em sua crueza e seus arranjos. Há uma estranha harmonia naquela mixagem quase amadora. A jornada de tentar entender o porquê de “Exile” ser considerado uma obra prima se revela prazerosa, profunda, emocionante e arrebatadora.

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Sonoridade

O que funciona de melhor em “Exile on Main Street” é justamente a sonoridade “crua” que o álbum possui. As faixas não são “super produzidas” – ao contrário – elas soam como se tivessem sido gravadas em um ou dois takes.

Keith marca presença como “segunda voz” na maioria das faixas. Eu sempre gostei da voz do Keith e acho que os duetos com Mick funcionam muito bem no disco. Os próprios vocais de Jagger foram mixados sobressaindo-se menos do que de costume. Em minha opinião, isso funciona muito bem (embora Mick não tenha gostado da ideia).

Os hits do álbum, Tumbling Dice e Happy, destoam um pouco da “proposta” mais crua do álbum. Mas são ainda assim ótimas canções que funcionam no todo. Eu destaco entre as minhas prediletas: “Sweet Virginia”, “Torn and Frayed”, “Loving Cup”, “Let it loose” e “Shine a Light”. São músicas arrebatadoras, daquele tipo que você não consegue parar de ouvir por semanas. Isso é inédito, pra mim, em se tratando de Rolling Stones.

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Legado

Quando lançado, “Exile on Main Street” não foi sucesso de crítica. Muitos profissionais decretaram que “Exile” era a peça que faltava para declarar finados como banda os Stones. Mas o público aprovou e o álbum duplo (o único de inéditas da carreira) foi sucesso de vendas.

Com o tempo, a mídia especializada descobriu a verdadeira joia que era “Exile on Main Street” e o álbum foi crescendo no conceito dos críticos. Keith declarou que “os mesmos que chamaram o disco de porcaria quando saiu disseram, anos depois, que se tratava do melhor disco de todos os tempos”.

“Exile” é uma ótima oportunidade para ouvir bom Rock´n´Roll em seu estado mais puro, de raiz. E também para conferir a excelente dobradinha Mick Taylor (que viria a ser substituído por Ron Wood anos mais tarde) e Keith Richards em canções de blues. O que é mais gratificante em “Exile on Main Street” é redescobrir uma das maiores bandas de todos os tempos.

A jornada, como já disse, é muito prazerosa. Viaje para esse “exílio” é cheio de canções maravilhosas e você não vai querer voltar de lá durante muito tempo. Eu garanto!

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