Pitacos #9: Need for Speed – O filme

Durante um determinado tempo de minha vida, o ritual era o mesmo todas as noites: eu saía da faculdade, chegava em casa , ligava o PC (daqueles que tinham um gabinete branco e uma tampa aberta), abria a conexão Dial Up e, desesperado, clicava no ícone “NFS” na área de trabalho. Minutos depois, eu e um ou dois amigos da faculdade estávamos jogando Need for Speed.

Essa era a minha rotina há 16 anos. É meu amigo, o tempo passa!

Em 1998, as coisas não eram como hoje: se você tivesse sorte (e máquina), já tinha o Windows 98 instalado. Senão, era o 95 mesmo.  A conexão era discada. Pra você que não sabe o que é isso, eu explico: para conectar-se à internet, bastava possuir um modem ligado à uma linha telefônica. Este modem discava para um provedor qualquer. Na sequência, você escutava um ruído parecido com um gato resfriado. Depois de alguns segundos, o gato era picado por uma abelha. Som estridente e pronto, você estava online, usufruindo da incrível velocidade de 56,6 kbps.

Hoje tudo isso pode soar pré-histórico ou você aí pode estar pensando que estou escrevendo meu pitaco em um asilo qualquer, entre uma partida de gamão e outra. Mas pense: há 16 anos não era tão fácil entrar em uma McLaren F1 e sair pilotando a mais de 300 km/h. Não havia essa infinidade de jogos de corrida disponíveis. Need for Speed foi, para toda uma geração, certamente a primeira experiência digna de “pilotagem” do mundo dos games. E, por incrível que pareça, desde a sua primeira versão, o jogo já contava com suporte a partidas online.

A série teve seus altos (Underground, Most Wanted, Hot Pursuit) e baixos (The Run, Carbon), mas desde o lançamento, em 1994, é referência: é impossível falar em jogos de corrida sem falar em Need for Speed.

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E o filme?

Dito isto, vem a pergunta: o que esperar de um filme baseado em Need for Speed?

Uma resposta fácil seria: “Um novo velozes e furiosos”.

Errado.

Velozes e Furiosos é um filme protagonizado por personagens que gostam de carros. Need for Speed é um filme protagonizado por carros pilotados por personagens.

O protagonista da história é Tobey Marshall, vivido por Aaron Paul (o Jesse Pinkman ou vice-versa). Ele é dono de uma oficina de customização de automóveis que vive o drama da perda recente do pai. Ele e sua trupe ganham a vida arrumando um carro aqui e disputando uma corrida ali. Aí aparece o cara que se deu melhor na vida e ainda por cima lhe roubou a namorada. Mais previsível impossível.

Bem, se você acha que vai assistir uma nova versão de “O Poderoso Chefão”, pode parar de ler aqui. Need for Speed não é um filme pra quem gosta de cinema cabeça e sim, um filme pra quem gosta de ação, carros, sustos e capotagens. E nisso ele se sai muito bem.

No jogo que dá nome ao filme, não há muito que fazer a não ser pilotar. Não existe história. Você simplesmente é piloto que gosta de desafios, e pronto. Sem muitos rodeios

Em “Need for Speed – o filme” acontece mais ou menos a mesma coisa: os personagens simplesmente já são o que são, estão todos “prontos”. Não espere explicações detalhadas de como Jesse Pinkman se tornou o piloto mais pica das galáxias da vizinhança, ou como Benny (Scott Mescudi) é capaz de pilotar um avião Cesna e, no minuto seguinte, aparecer com uma versão americana do helicóptero “águia dourada”. Da mesma maneira, jamais entenderemos porque Finn (Rami Melek) é citado como o único capaz de estabilizar as saídas de traseira do Mustang dirigido por Pinkman ou como Julia (Imogen Poots) pode ser inglesa, rica e entender tanto de carros ao mesmo tempo. E Monarch (Michael Keaton)? Até agora estou tentando entender quem é ele. Ele parece ser uma versão envelhecida do personagem que interpretou em “Herbie: meu fusca turbinado”, de 2000.

O fato é que Need for Speed não se leva a sério o suficiente para querer dar respostas ao espectador e explicar como seus personagens chegaram ali. Ao invés de respostas, temos os carros mais maravilhosos do mundo desfilando na tela durante ao longo de toda a projeção.

NEED FOR SPEED

Lembra o jogo?

O filme é cheio de referências aos jogos da série.  Se você jogou os primeiros títulos da franquia, vai lembrar-se facilmente dos circuitos que adentravam florestas, passavam por canyons e margeavam praias paradisíacas. Se jogou Hot Pursuit e fugiu da polícia da forma mais absurda possível, ali também vai estar sua referência. Até o efeito nitro do Underground dá as caras, de forma sutil.  Outras inúmeras referências estão presentes (o Uol Jogos fez uma excelente matéria compilando uma porção delas). Além disso, a fotografia nas cenas de corrida parece ser, muitas vezes, feita para passar a sensação que estamos “jogando” o filme.

E o Jesse Pinkman?

Bem, Aaron Paul está meio “travado” no filme, no que parece ser uma tentativa de não parecer-se com Pinkman. Em grande parte do tempo, a impressão é a de que ele está “se segurando”.  Se foi opção dele ou do diretor, é difícil saber. Mas poxa vida, todos os amigos dele falam “bitch”, menos ele. Seria épico ouvi-lo falar o clássico bordão novamente. É claro que em alguns momentos, o bom e velho Pinkman surge, especialmente na hora que começa a choradeira (hehehehe).

Observação importante: caso você não saiba quem diabos é Jesse Pinkman, vou explicar: Jesse é um dos principais personagens da aclamada série Breaking Bad. Se você ainda não assistiu, termine de ler o texto, compartilhe-o no facebook e vá assistir agora. Sério, você não sabe o que está perdendo.

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Pitaco final

Need for Speed é um filme que não se leva muito a sério e, aqui, isto é um grande acerto. Pra quem gosta de carros, curtiu os jogos ou quer simplesmente se divertir por algumas horas, vale cada centavo.

Se você quer ver um filme cabeça, fique em casa e poste alguma frase “sábia” na timeline do seu Facebook. Ou melhor, vá ler um livro.

Nota 8 

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