PlayStorm falando sério: Mulheres e o mundo dos games

Desde os tempos mais primórdios, existiam brincadeiras de “menino” e de “menina”. Lembro muito bem quando eu era moleque, com 9, 10 anos de idade, que as meninas brincavam de casinha e os meninos iam jogar bola ou vídeo game. Meninas que jogavam bola “não arrumavam namorado” e jogar vídeo game era algo proibido, porque elas “não sabiam jogar”. Com isso tudo, muitas meninas não desenvolveram vontade nem interesse pelo vídeo game, fazendo com que elas travassem uma verdadeira batalha contra os games durante décadas e décadas. Porém, nos dias de hoje isso é bastante diferente (ainda bem!).

Vou citar exemplos que aconteceram comigo. De todas as namoradas que tive, somente as duas últimas não implicavam com meu saudável vício. Aliás, as duas jogam e muito bem. Coincidência? Não, reflexo de uma mudança significativa no olhar que o sexo feminino tem para com os jogos.

Porém, como toda mudança, veio cercada de preconceito e reticências por parte da molecada gamer, que teima em subjugar a moça que joga felizmente seu game. Para ter embasamento em meus argumentos, conversei com duas amigas minhas (gamers há bastante tempo) sobre alguns pontos cruciais nesse debate. A primeira, Julia Santos, 21 anos, fã da série Zelda, começou sua vida gamer entre 8 e 9 anos de idade. Thais Hoffmann tem 22 anos e começou a jogar, segundo ela, desde que colocaram um vídeo game na frente dela. PlayStorm falando sério: Mulheres e o mundo dos games

Invadindo a praia (ou party) dos marmanjos

Como já foi dito anteriormente, o mundo dos games sempre foi território masculino, sendo raras as mulheres que se atreviam a desbravá-lo. Porém, nos dias atuais o cenário é bem diferente, e isso inclui o Brasil. Perguntei para minhas duas amigas o que elas achavam dessa mudança.

Julia Santos – “Muitas que eu conheço, começaram por curiosidade. Hoje em dia não tem mais tanto preconceito, por parte delas, em achar quer jogos são coisas para garotos. Mas ainda sim e mais comum em MOBAS* e MMORPG’s do que em FPS por exemplo. Todas as minhas amigas jogaram Ragnarok (risos). Deve ter muito a ver também com a própria criação. Minhas irmãs são viciadas nos consoles antigos. Mas com o tempo elas foram jogadas pra outra visão e adotaram que videogames são pra crianças. No meu caso, meu tio sempre me falou e conversou muito sobre isso comigo e nunca deixou morrer esse interesse. Hoje eu jogo melhor do que ele (risos)”

*Sigla para Multiplayer Online Battle Arena, como League of Legends e Dota.

Thaís Hoffmann – Eu acho bem positivo para a felicidade geral dos gamers, tanto dos homens que buscam namoradas que jogam, quanto pras mulheres que buscam amigas com gostos em comum. O objetivo não é que todas as mulheres comecem a jogar e sim que isso se torne algo natural. Assim como é natural alguém gostar de sorvete de limão, não precisa todo mundo gostar mas não é nada de outro mundo alguém gostar disso. Quem sabe futuramente nem precisemos mais debater sobre esse tema, será algo até bobo de ser discutido, por se tornar usual”

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Uma praga chamada preconceito

Toda mudança gera conflito. E uma das sementes do conflito é o preconceito. Se o preconceito na sociedade é infelizmente algo comum, no mundo gamer não é diferente. Com freqüência, vejo mulheres serem destratadas em jogos online pelo simples fato de serem mulheres. Isso, em minha opinião, é algo absolutamente inaceitável. Veja o que as meninas acham disso.

Thais Hoffmann – “Boa, eu mesma nunca sofri nenhum. Até porque só jogava Call of Duty online e raras vezes ligava o headset (apenas em party com amigos e olhe lá). Meu nickname na PSN tem o apelido “Harley” e não o nome. Ninguém nunca desconfiou ser menina e sempre preferi assim. Jogando de igual pra igual, sem vantagem nem desvantagem no tratamento recebido. Mas claro, quando tinha party com inscritos e/ou seguidores do twitter sempre fui maravilhosamente tratada por eles, mas era diferente, era galera que me “conhecia” dos vídeos, aí era legal ter uma atenção especial (tanto pelo canal quanto pelo fato de ser mulher, claro).

“Você é mulher mesmo?”

Sei que os homens sempre notam quando tem garotas jogando, no CoD eu sempre reparava no kill/death ratio das mocinhas que entravam, e olha que geralmente eram as melhores nas partidas. Algumas vezes joguei em uma outra conta minha que invés de “Harley” é “Thaís”, aí geralmente os caras ficavam adicionando na PSN ou mandando “você é mulher mesmo?” via mensagem. Isso é bem chato. Mas confesso que tinha vontade de adicionar algumas garotas também e conversar, afinal ter amigas gamers nunca é demais, então entendo essa vontade dos caras de adicionar e querer conversar”

Julia Santos – Eu particularmente não jogo online a não ser com garotos que eu conheço justamente por isso. Jogando Halo eu só tinha dor de cabeça quando percebiam que eu era garota. Eles só me deixavam em paz quando eu matava alguns deles. Mas pior do que isso e nego deixando o jogo de lado pra ficar dando em cima…”

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Girl power!

Com essa “invasão feminina”, era esperarado que muitas se tornariam o que chamamos de gamers hardcore, sempre jogando em alto nível e explorando ao máximo todos os jogos, diferente do jogador casual. Mesmo em número superior, muito marmanjo se sente incomodado com essa presença “hostil” num mundo normalmente dominado por eles, o que eu acho uma babaquice sem tamanho. Mas, apesar desse aumento de mulheres no território gamer, o número de moças consideradas “hardcore gamers” ainda é bem pequeno. Perguntei paras as amigas o motivo pelo qual isso ainda ocorre.

Julia Santos – “Eu não acho que eu seja, somente por não poder comprar muitos jogos, por exemplo. Mas algo que eu tenho notado e que, mesmo não tendo jogado muitos jogos eu gosto de saber sobre todos, tenho minha listinha de quais eu quero jogar e só essa ideia já perturba os fieis jogadores. Alguns já me desafiaram a provar que eu realmente sei e outros simplesmente não me dão bola, mas mesmo num mundo de homens, eu ainda sou mais atacada por mulheres. E engraçado por que o grande lance é que eu tenho que ouvir que eu deveria ser mais feminina. Sendo que jogando o que mais acontece são cantadas de segunda mão.”

“Fico meio chateada…”

Thais Hoffmann – “Fico meio chateada, tento achar que as meninas não gostam tanto de jogos hardcore porque não dedicam tempo pra conhecer e aprender a jogar. Elas acham difícil, têm “muitos botões”, muitas “coisas ao mesmo tempo”, ou “muita violência” etc. Mas é questão de costume. Eu acho muito mais fácil jogar videogame do que fazer uma maquiagem decente ou combinar roupas pra sair. Outro fator que influencia é o próprio gosto “padrão” das mulheres, elas preferem um filme de romance a um filme de ação, isso já faz elas preferirem The Sims do que Uncharted, por exemplo.

Assim como preferiram uma Barbie aos bonecos do Power Rangers quando crianças. Já as gamers geralmente são diferentes desde criança. Gostam de tudo um pouco, são mais abertas. Tem uma visão mais ampla das coisas e tem personalidades diferentes da maioria. No caso dessa maioria das mulheres, acredito que a falta de interesse por games em geral seja puramente uma questão cultural. A gente é ensinada a se vestir de jeito X, se comportar de um jeito Y, gostar de Z e brincar com W. Nem todas conseguem se adequar a esses padrões da sociedade. A individualidade fala mais alto e a gente vai atrás de outras coisas. Eu adoro ser “diferente”, de usar a cabeça, de buscar fazer as coisas que gosto, mesmo isso indo contra ao que os outros esperam de mim e isso se reflete também nos tipos de jogos que gosto.”

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O mundo gamer está mudando. Ainda bem!

Como puderam ver meus amigos, o mundo gamer realmente está mudando. Cada dia mais nossas amigas e namoradas/noivas/esposas nos acompanham não só na cerveja e no futebol (cada dia mais), mas também nos games. Quem tem uma mulher ao lado sabe o quão prazeroso é dividir o seu hobby com a amada. E aos babaquinhas que ainda insistem em discriminar, ofender ou dar em cima de uma menina quando a mesma só está querendo se divertir com seu game, o meu sincero vai se f*&@#!

E tenho dito.

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