Pitacos # 4 – George Harrison: Porque ele é meu Beatle predileto (parte 1)

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“George Harrison: É quase uma criança”

A história, quase todo mundo conhece. Numa tarde de Julho, em 1957, John Lennon estava tocando com a sua banda em uma festa, nos fundos de uma igreja. Um amigo em comum apresentou-lhe James Paul McCartney, que sabia alguns acordes a mais do que Lennon e que era canhoto (o que era interessante visualmente para a banda). Ele aceitou Paul praticamente de imediato. Paul, por sua vez, conhecia um garoto mais novo que pegava ônibus com ele pra ir pra escola. E esse garoto tocava guitarra muito bem.

Em fevereiro de 58, ele convenceu Lennon a assistir o menino Harrison tocar seu violão no andar superior de um típico ônibus britânico. Lennon relutou, achou o garoto novo demais. Mas, dada a insistência de McCartney, acabou aceitando-o na banda. Estava assim formado o núcleo daquele que seria o conjunto de rock mais influente da história da música: os Beatles.

George Harrison

George foi galgando seu espaço dentro da banda aos poucos e a duras penas. George era o mais novo, numa época das nossas vidas em que a idade faz a diferença (ele chegou a ser deportado durante uma turnê por ser menor de idade). Além disso, o monopólio das composições era todo da dupla Lennon/McCartney.

E, medida que os Beatles ganhavam a Inglaterra e o mundo, crescia em torno da dupla de compositores uma aura mítica que os tornavam os Beatles com B maiúsculo, ao passo que George e Ringo eram os Beatles com b minúsculo. Isso é tão verdade que a estratégia de ser uma “dupla” de compositores foi copiada por Jagger e Richards e até por Roberto e Erasmo (Ok leitor, pode rir; eu também ri quando escrevi essa grande asneira).

“Se John e Paul conseguem compor algo que presta, por que eu não conseguiria?”

George se lançou como compositor no segundo disco dos Beatles. “Se John Lennon e Paul McCartney conseguem compor algo que presta, por que eu não conseguiria”. É fato que suas composições iniciais estavam bastante aquém das composições de Lennon e McCartney, mas ele já demonstrava um talento único ao emprestar aos “amigos” riff´s magníficos e que davam a “cara” da música. Dois exemplos clássicos: And I Love her, onde Paul admite em entrevista para o excelente documentário “Living in the Material World”, de Scorsese, que é o riff de George que é a alma da música. Outro caso clássico: Norwegian Wood.

Nessa época, George estava iniciando sua incursão no mundo da religião Indu e havia, recentemente, comprado uma cítara. John mostrou a música e George pensou “Por que não fazer o solo com a cítara”? Dito e feito, a combinação foi perfeita e é impossível dissociar a música do instrumento indiano. Além disso, George estava fazendo história: foi a primeira vez que um instrumento indiano era usado no Rock. Agora, adivinhem: que instrumento estava presente no single seguinte dos Rolling Stones, Paint it Black? Pois é.

George Harrison

“Obra-prima”

George aprimorou seu trabalho com boas composições espalhadas na discografia intermediária dos Beatles (If I needed someone, I need you), mas sua primeira “obra-prima”, na minha opinião, surgiu em 1966: Taxman abre o álbum Revolver de forma magistral. É uma canção em total harmonia com a proposta do disco (sons já flertando com a psicodelia) e tem uma temática de protesto: os abusos tributários que afligiam o pobre George (e este pobre Albergoni também, que vos escreve).

As peças indianas presentes em Revolver e Sgt. Peppers ajudam a colorir o tom hippie que marcou os anos 60. Mas é no álbum branco que George surge novamente com uma composição magistral: While my guitar gently weeps é outra prova do talento inigualável de George. Uma canção sensível, tocante e genial. Além de ser uma das melhores canções de George, é também uma das melhores canções do álbum branco. E, uma curiosidade, caso alguém desconheça: o solo é de Eric Clapton (embora não seja creditado). Que moral hein? Clapton ficou meio assim no começo, mas depois acabou aceitando a honrosa tarefa. Paul e John torceram o nariz e Clapton acabou gravando apenas alguns takes do solo. Mas, se George tinha While my Guitar, Paul tinha Hey Jude…

“É John, o cara alcançou a gente, hein?”

Hey Jude (a despeito de ser uma canção grandiosa em todos os sentidos) marcou negativamente a história dos Beatles em termos de bastidores. O clima das gravações esquentaram entre Paul e George (tudo devidamente registrado pelas câmeras), tudo porque Paul queria gravar sem guitarra e o George queria gravar com guitarra. Paul dizia que não, George dizia que sim, Paul dizia que a canção era dele e o George enfim disse “Se não quiser, eu não toco nada nessa porra”. Dito e feito, ele saiu da sessão de gravação e foi pra sala de controle esperar eles terminarem. Quando a música é sua, tem que ser do seu jeito né?

Pois então, alguns meses depois George aparece com Something debaixo do braço. Numa tradução livre do que li nas biografias dos Beatles, o Paul pensou mais ou menos assim “Putz, agora vai ser minha vez de baixar a bola e tocar meu baixo do jeito que o George bem entender. É John, o cara chegou no nosso nível, hein?” Tanto chegou que Lennon bateu o pé pra que a música fosse o lado A do single (com a dele, Come Together, como lado B). Obra de arte, gravada por mais de 150 artistas (Elvis, Sinatra) e sempre tida como uma das melhores canções dos Beatles. Isso sem contar que Here Comes the Sun, outra canção monstra de George, também entrou no mesmo disco. Estava difícil concorrer com o rapaz.

George Harrison

“George, essa é fraca demais”

Mas sabem o que me deixa realmente impressionado? O tanto de músicas boas de George que foram ensaiadas pelos Beatles, mas que nunca foram “aprovadas”. Quem, em sã consciência, desaprovaria “All things must pass”? Mas foi o que aconteceu e talvez explique o porquê de George ter deixado os Beatles temporariamente. O fato é que a banda acabou e, contra todas as expectativas possíveis, quem largou na pole position na carreira solo foi Harrison. Mas esse é um assunto para a segunda parte desse artigo: A carreira solo do ex-Beatle.

Para ler a segunda parte deste artigo, clique aqui.

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