Crítica: Beasts of No Nation

A Netflix disponibilizou para todos os assinantes seu primeiro longa-metragem, Beasts of No Nation. O filme também buscou seu lançamento nos cinemas, mas sofreu boicote das grandes distribuidoras. Menos de 30 salas nos Estados Unidos, e menos ainda na Europa, estão exibindo o filme, mas é o suficiente para cumprir as exigência da Academia de Hollywood e se habilitar a concorrer ao Oscar. E meus caros, é bem possível isso acontecer. Apesar do filme perder um pouco do fôlego próximo à sua conclusão, posso dizer que é fantástico. Mas se prepare: A história é pesada.

Escrito e dirigido por Cary Fukunaga e baseado no romance homônimo do autor nigeriano Uzodinma Iweala. Beasts of No Nation mostra o desenrolar de uma guerra civil em algum país africano. Inicialmente acompanhamos a história do garoto Agu (Abraham Attah) e sua família, que vivem em uma aldeia protegida pelo Exército. Sem estereótipos, vemos um ambiente pacífico, apesar de alguns elementos mostrarem que existe uma terrível guerra acontecendo. A vida acontece naturalmente: as crianças usam o que têm à disposição para brincar (a cena de Agu e sua “TV da imaginação” é demais), os adultos se encontram na igreja, tentam ajudar refugiados, dão aulas às suas crianças.

Crítica: Beasts of No Nation

Mas como não poderia deixar de acontecer, a vila é engolida pela guerra e após alguns membros da sua família serem assassinados, Agu foge e acaba sendo recrutado como menino-soldado pela resistência. E em quase duas horas de filme, vemos a infância do garoto sendo retirada, a sua involução acontecendo minuto a minuto. Um grande destaque do filme e que reflete muito na mudança de Agu é o Comandante, interpretado pelo único rosto conhecido no filme, Idris Elba (Mandela: Longo Caminho para a Liberdade e Thor). O personagem substitui a família do garoto, sendo uma figura paternal (não no bom sentido), mas abusiva, sugando aos poucos a humanidade e infância de Agu.

Um detalhe importantíssimo: O filme não especifica em qual país está acontecendo aquela guerra e nem as facções rivais. Vemos o governo totalitário como em diversos países africamos e as forças contrárias, e nenhuma é a solução. Claramente o foco é o conflito e como isso influencia a vida das pessoas.

Preciso destacar o belo trabalho de fotografia, que trabalha com muito contraste, como o comboio da resistência andando por belas paisagens. Mais simbólico que isso, impossível. A trilha sonora também merece destaque. Com canções infantis e suaves, mais uma vez contrastando principalmente com as cenas de guerra, causam um grande choque de realidade. A cena em si já seria pesada, mas vendo aqueles meninos-soldados, atirando e matando seus inimigos em um misto de vingança e prazer, aliado à música suave, me deixou com aquela sensação de “isso é muito errado”. Bem, é exatamente isso que o filme quer passar. E é a realidade em diversos países.

Crítica: Beasts of No Nation

Conclusão

Como disse anteriormente, o filme perde um pouco do fôlego no final. Mas acredito que faça parte do “recado”. Ao mesmo tempo que Agu perde a infância e se torna um soldado, ele vai cansando de tudo que acontece à sua volta. Nada mais justo que o espectador sentir o mesmo. A Netflix começou muito bem seu caminho no mundo dos cinemas.

Beasts of No Nation é, de longe, um dos melhores filmes do ano. E ponto mais que positivo para a interpretação de Abraham Attah. Fazia um bom tempo que não via um ator-mirim desconhecido fazendo um trabalho impecável.

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